Aprendizagem
O que é?
A Aprendizagem Baseada em Projetos parte de desafios reais para construir projetos cuidadosamente planificados, em que os alunos resolvem os desafios complexos que lhes são colocados e, nesse contexto, desenvolvem e demonstram capacidades.
Os alunos utilizam processos de investigação, resolução de problemas, tomada de decisão e trabalho de grupo e apresentação como processos de aprendizagem. O professor assume o papel de facilitador e líder das atividades que decorrem na sala de aula.
A peça central da ABP é uma questão ou problema que se pretende seja um desafio!
Nesta publicação abordaremos:
- Quais os objetivos da ABP?
- Qual o papel do professor na ABP?
- A importância do planeamento na ABP.
- Metodologia ABP.
- Como organizar ABP?
- Quais as características de um bom projeto?
- Dificuldades sentidas pelos professores.
- Conclusões.
Quais os Objetivos?
O objetivo principal da Aprendizagem Baseada em Projetos é desenvolver capacidades, especialmente as capacidades necessárias nas sociedades desenvolvidas:
- pensamento crítico;
- capacidade de recolha e tratamento de informação.
- criatividade;
- colaboração;
- trabalho em equipa;
- empreendedorismo;
- liderança;
- capacidade de comunicação.
Qual o papel do Professor?
O papel do professor é de especial importância, não devendo orientar o processo para uma determinada resposta, mas criar novas questões pertinentes que ajudem os alunos a procurar uma solução ou a olhar o problema de outra perspetiva e criar algo novo. Deve ainda estruturar atividades que permitam aos alunos a obtenção de conhecimentos específicos necessários à resolução do problema. Querer e fazer querer produtos de alta qualidade é um dos aspetos cruciais do seu papel!
Planeamento:
O Planeamento do projeto é crucial, deve contemplar flexibilidade suficiente para que os alunos possam decidir sobre os aspetos da sua construção e façam, por isso, aprendizagens significativas.
Deve contemplar os aspetos fundamentais das aprendizagens que se pretendem desenvolver e a forma como estas se possam tornar significativas para os alunos.
Deve prever ainda os aspetos fundamentais da sua gestão e avaliação, bem como os indicadores do seu sucesso.
A resolução dos desafios não deve basear-se apenas na utilização de conceitos ou métodos memorizados, mas deve antes permitir a busca de novas formas de fazer e o desenvolvimento de novas aprendizagens contextualizadas e significativas.
Metodologia:
A metodologia ABP inverte o processo tradicional de aprendizagem... as questões são colocadas no início, o trabalho dos alunos é feito no início, a fonte de informação principal não é o professor... a aprendizagem é consolidada ao longo do processo! O conhecimento é o resultado não o início! A aplicação do conhecimento é o processo de desenvolvimento não de verificação! A avaliação é constante, não final!
A aprendizagem é efetuada durante a investigação, discussão em grupo dos conceitos, representação de ideias e organização de informação necessária à pesquisa de uma solução, por isso implica desenvolver capacidade como:
- colocar questões;
- investigar;
- procurar informação;
- chegar a conclusões;
- apresentar as conclusões;
- organizar processos;
- coordenar esforços;
- produzir uma solução;
A solução encontrada deve ser original!
Ao contrário da escolarização tradicional em que a norma, os processos standard e a conformidade com a norma são o centro, na aprendizagem baseada em projetos são as capacidades criativas, a busca e experimentação das múltiplas maneiras de resolver um problema que são procuradas, mobilizando saberes de múltiplas disciplinas, ao longo do tempo, num processo que é desenhado e implementado pelo próprio aluno em equipa e individualmente, é por isso um processo de aprendizagem centrado no aluno em oposição à aprendizagem tradicional centrada no professor.
O erro não é visto como um problema, mas como uma oportunidade de aprendizagem, para tal a revisão do trabalho feito e a reflexão sobre os sucessos e insucessos do mesmo, são passos cruciais no desenvolvimento da metodologia e de aproximação significativa aos conceitos, processos e atitudes a desenvolver.
A apresentação ao público (não apenas na turma) das soluções encontradas é de crucial importância porque implica o desenvolvimento de capacidades de comunicação, permite feedback e avaliação das soluções encontradas.
Como organizar a ABP?
1- Formular uma questão ou problema abertos que constitua um desafio.
2 - Iniciar a construção de conceitos base através de pesquisa ou utilizando a exposição.
3 - Esboço da ideia de produto final - permite definir que conceitos e capacidades explorar para atingir os objetivos.
4 - Nesta fase há que permitir aos alunos a tomada de decisão, permitindo a discussão do projeto, desenhando os seus Planos Individuais e Coletivos de Trabalho, planeando tarefas e prazos de conclusão.
5 - A responsabilidade individual e coletiva é essencial nesta fase, dado que se iniciarão períodos de trabalho individual e coletivo.
6 - Início do processo de investigação com o objetivo de conseguir um produto final completamente novo. A construção de mapas conceptuais ou de fluxogramas poderá ser útil nesta fase, sendo revistos ao longo do processo.
7 - Fase crucial em que entra em ação o pensamento crítico aplicado à resolução de problemas, aprendizagem colaborativa e domínio da comunicação. O trabalho em equipa, a capacidade de comunicação e argumentação são fundamentais para a aprendizagem colaborativa.
8 - Nesta fase o papel do professor é crucial, como facilitador, colocando questões que desbloqueiam vícios de raciocínio ou abordam o problema noutra perspetiva, mas também como Coach, dirimindo conflitos e dando feedback!
9 - Produto final que deve ser apresentado e analisado publicamente.
Quais as Características de um bom projeto?
1º Uma boa questão e um bom tema (amplo, aberto, motivador, local, investigável, controverso):
A questão tem de ser suficientemente aberta para não ter uma resposta que possa ser dada sem investigação. O tema suficientemente aberto e com influência na vida dos jovens, para poder ser abordado de múltiplas formas, apelando às múltiplas inteligências e permitindo que seja significativo para todos. Um tema controverso aumenta a discussão e a motivação, mas também pode dar azo a incompreensões, pelo que o objetivo deve ser explicado e envolver os encarregados de educação e ponderadas as possíveis consequências da sua abordagem.
2º Um produto final abrangente (capacidades necessárias para o construir, conceitos a desenvolver, metodologias de investigação, análise e apresentação, apelo às múltiplas inteligências e possibilidades de diferenciação) e o mais perfeito possível, não devendo ser apenas um produto teórico ou escrito mas envolvendo outras formas de apresentação, possibilitando ainda a intervenção/melhoria de um problema local.
3º Papéis, metas e tarefas distribuídas pelos diferentes alunos, tendo em conta as áreas fortes de cada um e as capacidades que se pretendem desenvolver.
4º Calendarização das tarefas, com alguma margem de manobra para pequenos atrasos.
5º Independência e interdependência. As tarefas independentes levadas a cabo pelos diferentes alunos devem preservar algum grau de interdependência, para fomentar o trabalho em equipa.
6º Prever os recursos necessários e tê-los disponíveis, sejam eles recursos informativos, materiais, espaços ou tempos. Os recursos devem ser escolhidos/definidos cuidadosamente para poderem ir ao encontro das múltiplas inteligências de cada aluno, das capacidades a desenvolver e da capacidade de os utilizar.
7º Ter instrumentos de organização facilmente visualizáveis, como cronogramas gerais do projeto, cronogramas de trabalho individual, listagem de tarefas e datas de conclusão, metas importantes, contributos concretizados por cada um, avaliação.
8º Prever espaços para apresentação das concretizações, rever, criticar e reorientar, através de auto e heteroavaliações (pelos pares, especialistas convidados ou pelo professor) do trabalho produzido.
8º Prever um evento de apresentação. O evento de apresentação limita um espaço temporal, criando pressão para a conclusão, para a qualidade e para a originalidade do projeto. Todos vão ver! O evento de apresentação, pode ser um momento de aprendizagem ou de introdução ao tema para outros alunos da escola.
Dificuldades sentidas pelos professores:
A menor estruturação do processo de aprendizagem causa ansiedade a muitos professores que preferem a linearidade da aprendizagem tradicional.
A resistência à mudança, mas sobretudo a resistência à insegurança de um processo supostamente com pouco pontos de controlo do tempo (feito com os alunos), da gestão dos percursos de aprendizagem (definido com os alunos individualmente ou em grupo) e dos resultados de aprendizagem, mas sobretudo, que o processo se desenrole de forma a que o professor perca o controlo ou sejam expostas as suas próprias dificuldades, são as principais barreiras a serem ultrapassadas.
Outra grande dificuldade prende-se com a pressão para a resposta. Ao início pode haver resistência dos alunos para se envolverem em atividades que causam frustração e podem solicitar ao professor respostas imediatas que os levem mais rapidamente aos sucesso. O professor deve resistir a essa tentação.
Ora, se pensarmos que a ABP, na sua essência, a solução que se procura é nova, pressupõe-se que o caminho (para todos) será um caminho não trilhado.
O segredo é ser menos ambicioso, ao princípio, começando por projetos nas suas zonas de conforto. Estes projetos iniciais devem ter sempre uma componente que saia da zona de conforto do docente e que o obrigue a explorar novas vertentes. Esta estratégia permite um compromisso entre o conforto e segurança e a exploração de um novo caminho! A mudança não se faz... vai-se fazendo!
Concluindo:
1 - Comece... um projeto é isso mesmo, um caminho! É uma forma de também você, professor, aprender utilizando esta metodologia.
2 - Procure uma equipa de professores que possam servir de suporte:
- emocional - nem sempre as coisas correm bem à primeira, ter alguém que nos apoie é fundamental nessas circunstâncias.
- metodológico - às vezes os problemas e impasses sentidos, já foram ultrapassados por outros... não se esqueça, o trabalho em equipa e a colaboração são centrais na Aprendizagem Baseada em Projetos (não é só para os seus alunos, mas também para si, como professor).
4 - Não tenha medo de errar. O erro é uma oportunidade de aprendizagem (também é verdade para os seus alunos, deixe-os errar e eles vão aprender se sentirem o seu apoio). Procure apoio no erro... procure aprendizagem.
5 - Não seja demasiado ambicioso, pelo menos ao princípio. Comece com projetos pequenos (é bom para si e para os seus alunos), projetos que se possam concretizar num curto espaço de tempo, que evitem frustrações (suas e deles). A ABP pretende aumentar os níveis de motivação, não diminuí-los!
6 - Seja ambicioso, aumente o risco à medida que se vai sentindo confortável.
7 - Não desista... aqui e além vão acontecer problemas (alguns imprevisíveis, outros que podiam ter sido previstos). Melhore o planeamento e volte a tentar... quando se aprende a andar tropeça-se... mas só anda quem não desiste de tentar!
8 - Não desespere... ao princípio vai parecer que os resultados demoram a aparecer. A aprendizagem tradicional parece linear mas tem muitas perdas. A Aprendizagem Baseada em Projetos, por ser significativa, limita as perdas com o tempo. A prazo, apesar do arranque mais lento, vai ganhar tempo! Veja-o como um investimento!
9 - Divirta-se. A ligação emocional é muito importante. Procure projetos que consigam conciliar objetivos de aprendizagem com algo que o divirta a si e aos seus alunos!
10 - Aprenda... Baseado em Projetos!! Em equipa com os seus alunos! Afinal é esse o objetivo!
Webgrafia:
http://www.edutopia.org/pdfs/stw/edutopia-stw-maine-project-learning-six-step-rubric-planning-successful-projects.pdf
http://www.bie.org
Não se esqueçam: os vossos comentários e a partilha de experiências são sempre bem vindos e muito importantes para que se possa aprender consigo... eu e todos os que nos visitam!
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